sábado, 17 de janeiro de 2009

Itiguen No Kame (Tartaruga de um olho só)


"Uma alusão no capítulo Myoshogonno (27º) do Sutra de Lótus, que afirma ser o fato de encontrar o budismo, algo tão raro quanto uma tartaruga de um olho só achar um tronco de sândalo, com uma concavidade do tamanho exato para comportá-la, flutuando na água. O sutra Nirvana usa o mesmo símbolo, para expressar a raridade de se nascer como humano e encontrar o budismo. A história por trás dessa referência está na parábola da tartaruga cega, que consta no Sutra Zo-agon. Uma tartaruga cega, cuja extensão de vida é de imensuráveis Kalpas, vive no fundo do mar. Uma vez a cada cem anos, ela sobe a superfície. Há somente um tronco flutuando no mar com uma cavidade adequada. Como a tartaruga é cega e o tronco é arremessado à mercê das ondas, a possibilidade de a tartaruga encontrar a madeira é extremamente remota. É ainda mais raro, diz Sakyamuni, nascer como ser humano; tendo conseguido isto, a pessoa deve usar a oportunidade para dominar as quatro nobres verdades e alcançar a libertação.
Uma versão bem mais elaborada dessa história consta no Matsuno Dono Goke- ama Gozen Gohenji (A tartaruga de um olho e o tronco flutuante de sândalo) de Nichiren Daishonin, onde é empregada para mostrar a dificuldade de se encontrar o Daimoku do Sutra de Lótus. A tartaruga, neste caso, é retratada como possuidora de um olho só e destituída de membros. Sua barriga é tão quente quanto o ferro em brasa e suas costas, tão fria quanto as montanhas nevadas. Há uma árvore de sândalo vermelho sagrado que pode esfriar a sua barriga. Noite e dia, a tartaruga anseia achar o tronco de sândalo, para que ela possa esfriar a sua barriga em sua concavidade enquanto aquece as suas costas sob o sol. Contudo, ela só pode subir à superfície uma vez a cada mil anos, e mesmo que por acaso consiga encontrar um tronco flutuante nessa ocasião, este pode não ser o sândalo vermelho. Mesmo que ela encontre um tronco de sândalo vermelho, este dificilmente possui uma cavidade, e mesmo que possua, a abertura raramente será do tamanho certo para acomodá-la. E, mesmo que ela seja feliz o bastante para encontrar o tronco ideal, como a tartaruga possui um olho só, não é capaz de seguir a direção correta. Nichiren Daishonin interpreta o mar como sofrimentos de nascimento e morte, e a tartaruga como toda a humanidade. O fato de não possuir membros indica a ausência de boa sorte acumulada em existências prévias, o calor de sua barriga representa os oito infernos quentes e o frio de suas costas, os oito infernos gelados. Ter um olho só indica a percepção distorcida que enxerga ensinos inferiores como sendo superiores e vice-versa. A capacidade de subir à superfície apenas uma vez a cada mil anos mostra o quanto é difícil emergir dos estados inferiores e nascer humano e, principalmente, nascer numa era em que o Buda fez o seu advento. Os troncos flutuantes, que não são sândalo, simbolizam os ensinos provisórios que são, comparativamente fáceis de encontrar, e o sândalo vermelho é o Sutra de Lótus. A concavidade de tamanho apropriado no tronco é o âmago do sutra, o Nam-myoho-renge-kyo. "
( T. C. nº 297 - pág. 21/22 - 4/93 ) H.L.M.
Seleção de texto: Doralice e Paulo Bruno.

Um comentário:

Anônimo disse...

Hmmm... Eu acho que pode ser interpretado de outra maneira...

Em um livro chamado "A Doutrina de Buda" da editora Martin Claret, Buda diz que os "caminhos para a iluminação são muitos". Ele cita a história de um homem que fura o pé na rua com um espinho ou um prego e se torna um iluminado. Ou seja, a concavidade não é exatamente isso ou aquilo, mas o que é melhor para cada um, já que depende do formato da tartaruga que esse tronco seja o certo. Fosse assim, essa história seria apenas um modo de amedrontar as pessoas para seguir o budismo.

Parabéns pelo blog, belas imagens, objetivo e com aparência limpa.