terça-feira, 29 de setembro de 2009

Estado de Tranquilidade

"Um tratado diz: “ Ser calmo é Nin ”. Esta é uma condição em que a pessoa pode controlar temporariamente seus impulsos e desejos através da razão. Assim, a pessoa passa a ter uma vida calma e em harmonia com o seu meio, que inclui as outras pessoas e o ambiente.
O homem pode ser definido de vários ângulos, mas o Budismo define o homem como um ser no mundo de “ Nin ” (Tranqüilidade). Em resumo, este estado humano Nin é “manusa” em sânscrito, significando “seres pensantes”. Uma passagem de “ Risso Abidonron” diz: “Há oito componentes da propriedade do homem: sagacidade, carácter pessoal, consciência humana, julgamento são, sabedoria, habilidade de distinguir o verdadeiro do falso, ser mais provável para atingir a iluminação, e repleto de causa do passado. Portanto, este caminho humano é chamado “manusa”. A razão, a faculdade contemplativa, a sabedoria e outras estão todas incluídas nestas propriedades que envolvem o homem. Como resultado, podemos compreender que 
Nichiren Daishonin definiu como Tranqüilidade, baseando-se nesta interpretação. 



Nin ou tranquilidade pode parecer a condição mais pacífica, calma e passiva dentre os Dez Mundos. Os Três Piores Caminhos e os Quatro Maus Caminhos são mundos em conflitos, o “Ten” ou alegria é também um estado ativo em que a espiral da alegria está no seu ponto alto. Todas estas condições de vida são consideradas extremamente dinâmicas.
Quando pensamos e analisamos sobre a nossa vida diária, vemos que esta compreende não somente algumas das notáveis ondulações das nossas emoções, mas também momentos muito calmos ou pacíficos. Invariavelmente todos experimentam estados temporariamente sossegados e tranqüilos ao longo do dia, mesmo que passem a maior parte do tempo sendo controlados e influenciados pelas mudanças caleidoscópicas do ambiente. Nin é a expressão mais apropriada para descrever os casos em que estamos lendo um jornal após retornar ao lar do serviço ou uma agradável conversa familiar em meio a uma xícara de café. 



Esta condição de Nin, contudo, pode mudar-se instantaneamente nos Três Piores Caminhos ou nos Quatro Maus Caminhos pelo mais leve desvio de nossas circunstâncias. É essencial, portanto, que conservemos e mantenhamos continuamente as nossas identidades imunes de tais mudanças fenomenais. Devemos refletir ou pensar profundamente sobre nós mesmos enquanto penetramos na sociedade. Então, é possível fazermos decisões precisas sobre vários assuntos. Por outro lado, podemos sublimar este estado de Nin vendo através da sua verdadeira natureza e cultivando-nos para condições mais elevadas e mais superiores. 



Este estado está colocado numa posição central no conceito dos Dez Mundos. Isto porque o Budismo ensina que este mundo de Nin é a condição mais fundamental que tem a possibilidade de se mudar em qualquer um dos outros mundos. O mais importante para nós é melhorarmos e desenvolvermos este estado transitório de Nin para uma condição de energia vital carregada com um brilhante e eterno fluxo de sabedoria. Aqui está a prática da fé no Budismo.
De certo modo, é extremamente difícil perceber a nossa vida e a sociedade tais como são e agir corretamente com calma e mente tranqüila Em contraste, é também muito fácil vivermos à mercê dos desejos instintivos e agirmos pelas emoções. Tal estilo de vida, contudo, só pode aumentar a nossa infelicidade.
A fim de desfrutarmos de uma vida tranqüila digna de um ser humano, os pré-requisitos devem ser razão, uma aguda visão baseada em profunda sabedoria, uma pura consciência para discernir o bem do mal, e um férreo desejo de vencer todas as dificuldades. Adicionadas a estas, as condições intrínsecas para avançar são: a vontade para se desenvolver em direção ao futuro, os sentimentos humanos e outros. 


Certamente, no mundo em que vivemos os valores estão se tornando cada vez mais diversos. No entanto, o ser no estado de tranquilidade tem de ter uma espécie de fundação, ou base, para a existência. Quando ele tem alicerces, pode levar sua vida em paz. O fluxo da existência é suave e o tempo subjetivo passa firme e pacificamente. No estado de Tranquilidade, as energias da vida estão sob considerável controle. A não ser que alguma coisa saia errada, por exemplo, somos virtualmente inconscientes das funções do nosso corpo. No nível espiritual, é necessária grande dose de emoção reprimida ou um grande desejo de perturbar a nossa compostura para que ajamos movidos pelo descontentamento e insatisfação. Tranquilidade é, no todo, um admirável estado."
Fonte: T.C. nº 269 pág 47 e 48 de 01/91
Seleção de texto: Doralice e Paulo Bruno. 17/5/97
Digitação - Paulo Bruno.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Narração do Gongyo em português

O Gongyo que recitamos pela manhã e pela noite é formado por parte do 2º capítulo do Sutra do Lótus, Hoben, e pela parte chamada de Jigague do 16º capítulo, Juryo. 

Junto com o Bruno Padilha produzi uma gravação com a narração do Gongyo traduzido para o português, com o texto do livro "Preleção dos Capítulos Hoben e Juryo", de Daisaku ikeda, mas havia colocado apenas na barra lateral, sem um post específico, o que resolvi fazer agora para facilitar ainda mais a localização da gravação aqui no blog. Para ouvir e/ou baixar, click aqui.
Se quiser acompanhar o texto junto com a narração
click aqui ou aqui.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

The Last Detail legendado

Conforme prometido, coloco agora a versão legendada em português do vídeo de uma parte do filme "The Last Detail" lançado em 1973 estrelado por Jack Nicholson, com participações dos ainda jovens Randy Quaid e Otis Young, além de Gilda Radner. As cenas, entre elas uma reunião de um encontro de discussão de Nichiren Shoshu, com membros da SGI Canadá, foram rodadas na cidade de Toronto e levam a um desfecho bem interessante.



terça-feira, 15 de setembro de 2009

Estado de Ira

"Ira ( Shura ) é o quarto mais baixo estado de vida. Quando combinado com Inferno, Fome e Animalidade são chamados de quatro maus caminhos, porque são essencialmente estados de vida de infelicidade. Embora o mundo de Ira esteja associado com os primeiros três mundos, há uma considerável diferença entre o Estado de Ira e as condições mais baixas de vida. 



No Estado de Ira, as pessoas possuem consciência de seus atos. Nas condições de vida mais baixas, as pessoas são controladas completamente por seus desejos. Elas não possuem nenhum controle sobre suas vidas. Neste estado, contudo, os indivíduos possuem a habilidade de tomar decisões concientes, mesmo baseadas em pontos de vista distorcidos do que é certo ou errado. Enquanto estiverem no mundo da Ira, as pessoas não pensam em outras a não ser nelas próprias. Elas colocam como prioridade máxima o seu próprio benefício ou promovem seus pontos de vista. Neste estado baseado no egoísmo as pessoas possuem o constante desejo de derrubar as outras, para colocarem-se numa posição superior ou mais favorável do que aquelas ao seu redor. A Ira manifesta-se como inveja, ódio e adulação. Aqueles que odeiam outros simplesmente porque são de uma raça ou religião diferente estão sofrendo no mundo da Ira. Quando as pessoas neste estado de vida encontram alguém melhor do que elas, a inveja e o ódio manifestam-se, transformando-se em ira e estimulando-as a atacar outras pessoas. Pensando somente em si mesmas, essas pessoas, se não conseguirem vencer seus oponentes as humilharão para adular e favorecer seu status. 



No Budismo existe o conceito das catorze calúnias ou atitudes que os seguidores do Verdadeiro Budismo devem evitar. Incluídos neste estão o ódio, a inveja e o ato de sustentar o rancor, todos estes, contidos no Estado de Ira. O Gosho declara: “No primeiro volume do Maka Shikan lê-se: ‘Aquele que vive no mundo da Ira, motivado pelo desejo incontrolável de ser superior a outros está subestimando outras e exaltando a si mesmo. Ele é como um falcão rasgando o céu a procura de uma presa. Ele pode mostrar aparentemente grande benevolência, justiça, boa conduta, sabedoria, boa fé e possuir um senso moral elementar, porém o seu coração permanece no mundo da Ira ’ ( Gosho Zenshu, p.430 )”. Em outras palavras, as pessoas no mundo da Ira farão o que acharem necessário para seguirem adiante, mesmo agindo gentil e sinceramente. Mas seu verdadeiro eu é controlado pela presunção e desejos próprios. Ao contrário da Fome, estes desejos são muito mais humanos do que instintivos. Os desejos instintivos que têm sido cumpridos, os quais dão origem aos desejos egoísticos de asserção e busca de outras vaidades transitórias. Ao discutirmos sobre o Mundo de Inferno ( Terceira Civilização, outubro, 1989), foi mencionado que o Estado de Inferno é caracterizado por uma “ira incontrolável e inextinguível.” A ira do Estado de Inferno, entretanto, está em um nível mais profundo do que a auto-consciência. É algo que submerge das profundezas da vida. Além disso, a medida que afeta coisas externas a si - ou seja, destruindo outras - sua natureza conduz os indivíduos por si mesmos, a ruína. A vida no Estado de Inferno não possui liberdade ou força para atacar outras pessoas, ao contrário do estado de Ira. Nichiren Daishonin afirma: “ Ser perverso é ira” (END. I, pág. 57 ). Perversidade aqui indica como o egocentrismo pode distorcer o ponto de vista da realidade das pessoas. Elas não podem ver as coisas logicamente. Elas procuram ver do modo que desejam ver, distorcendo os fatos, incapazes de distinguir o bem do mal. Não possuem também considerações para com outras pessoas. 



Shura é a palavra japonesa correspondente a Ira e é uma abreviação de ashura, que na mitologia Indiana, eram demônios que lutaram constantemente com o Deus Budista Taishaku. Os deuses celestiais, encontram prazer em fazer o bem, mas os ashuras deleitam-se com o mal. As aparências de ashura são feias, porque eles mantém o ódio com relação aos deuses celestiais.
Nichiren Daishonin refere-se a essa parábola sobre tal ser celestial. Ele escreve, “ O arrogante sem dúvida, temerá um forte inimigo. Por exemplo, o insolente Shura, quando reprovado por Taishaku, encolheu-se e escondeu-se em uma flor de lótus num lago frio” (END - I, pág. 197). Uma versão da história diz que a filha de Ashura casou-se com o Deus Taishaku mas tornou-se extremamente ciumenta. Ela influenciou seu pai e este tornou-se enraivecido. Por sua vez, o pai induziu seus soldados que atacaram os homens da Taishaku. Seu ódio, fez-lhe sentir grande como um gigante. Mas quando confrontado por Taishaku, Ashura ficou amedrontado, encolhendo de medo e então fugiu. Tão diminuto ficou que escondeu-se numa pequena flor de lótus. Esta parábola ilustra como as pessoas no mundo de Ira freqüentemente sentem-se superior e melhor do que as outras. Porém, quando confrontadas por alguém realmente superior, elas pensam somente em si mesmas e tornam-se covardes. As pessoas no estado de Ira possuem uma condição de vida limitada e miserável. 



A Ira é uma baixa condição de vida, mas quando baseada na compaixão ou senso de justiça, pode ser usada como uma força positiva. Nossa ira, por exemplo, pode ser a causa para lutarmos contra as injustiças no mundo ou trabalhar por uma boa causa. Além disso, o desejo de não ser vencido pode conduzir-nos a aperfeiçoar a nós mesmos. Por exemplo, se um time de baseball é derrotado pelo rival, uma reação benéfica seria dizer: “ Nós perdemos porque ainda estamos fracos. Vamos praticar mais e melhorar para que possamos vencer na próxima vez”. Mas se o time retorna para casa com um sentimento de resignação, lamentando: “ Nós estivemos terrível. Não há modo de podermos vencer “, o resultado será completamente diferente. Quando algo acontece devemos olhar para nós mesmos ao invés de culpar os outros ou nutrir ressentimentos e ódio. Por outro lado, não haverá um fim para o conflito. Além disso, se a ira escapa de nosso controle, podemos ferir outras pessoas bem como a nós mesmos. A ira em um nível mais amplo é a causa do mais bárbaro ato - a guerra. A menos que substituamos este baixo estado de vida pela verdadeira consideração para com outros, não seremos capazes de libertar este mundo de conflitos. O Presidente Ikeda tem dito que para estabelecer a paz devemos “ construir uma fortaleza de paz dentro do coração de cada indivíduo”. Somente quando as pessoas do mundo todo forem capazes de mudar o ódio e o conflito dentro de suas vidas, com um sentimento de preocupar-se com as outras, o desejo pela paz mundial tornar-se-á realidade. Portanto, devemos continuar a luta pelo Kossen-rufu, propagando amplamente o Verdadeiro Budismo. Então, as pessoas do mundo podem fortalecer o seu Estado de Buda e serem capazes de direcionar a sua ira construtivamente."
Fonte T. C. nº 258 pág. 40 a 42 de 2/90

Seleção de texto: Doralice e Paulo Bruno. 2/5/97

Digitação - Paulo Bruno.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Estado de Animalidade

"O estado de animalidade (tikusho) é o terceiro mais baixo dentre os Dez Mundos. Animalidade, junto a Inferno e Fome, formam o que conhecemos como os “Três Maus Caminhos”. São assim chamados porque são estados de sofrimento. 


É dito no Budismo que as pessoas caem nesse domínio por cometerem más ações. Animalidade é o estado de vida no qual as pessoas são dirigidas unicamente por seus instintos. Elas agem impulsivamente, com irracionalidade e sem moralidade. O critério de suas ações é a luta pela sobrevivência, “a lei da selva”, aproveitando-se dos mais fracos e adulando os mais fortes. Tikusho é um termo geral para animais. De acordo com alguns sutras, se mesmo que as pessoas vivam como seres humanos hoje, se estas vivem a lamentar-se constantemente ou a difamar outras pessoas, ou entregam-se excessivamente aos prazeres sexuais, ou vivem freqüentemente enfurecidas, podem renascer sob alguma forma de animal em sua próxima existência.


Todos os seres humanos possuem o Estado de Animalidade como uma condição potencial de vida. Durante o desenvolvimento do embrião humano, de fato, este passa por estágios que são surpreendentemente similares aos de outros vertebrados. Em um dos estágios é quase impossível diferenciar entre o embrião de um peixe, uma tartaruga, um galo, um coelho e de um homem. Contudo, o célebro humano possui várias funções em comum com muitos outros animais. É formado por três partes ou camadas básicas. A base cerebral ou cérebro anterior controla as funções vitais básicas involuntárias tais como a respiração, batidas cardíacas, o despertar e o adormecer. Ao redor deste está o cérebro médio ou “velho córtex”, que controla o desejo da fome e sede, como também os impulsos sexuais - desejos importantes para a sobrevivência do indivíduo e das espécies. Muitos animais partilham estas duas primeiras camadas de funções cerebrais. Ao redor do velho córtex está o chamado “novo córtex”, o centro de funções exclusivo aos seres humanos. A habilidade para controlar e viver além dos impulsos de um indivíduo por alimento ou sexo é unicamente humana. Agir impulsivamente, guiar-se somente por instinto, é viver como um animal. Pode-se dizer que o modo de vida humano reside em não ser dominado por tais tendências impulsivas. 



Mergulhando no mundo da Animalidade, as pessoas perdem o sentido da razão, e suas emoções são facilmente dominadas pelo mêdo e covardia. Os indivíduos que vivem neste estado de vida, como animais, podem adaptar-se ao seu meio ambiente, mas quando defrontam-se com situações desagradáveis ou estranhas, freqüentemente ficam paralisados pelo mêdo. Não conseguem encontrar uma solução perdendo toda a esperança e resignando a si mesmas ao própio destino. A natureza dos animais é viver o dia a dia. Eles são incapázes de pensar ou planejar adiante. Certamente, alguns animais armazenam alimentos para o futuro, mas esta prática é puramente instintíva, algo sobre o qual possuem pouco ou nenhum contrôle. Eles não possuem sonhos, esperanças para o futuro ou ainda uma direção na vida. As pessoas no Estado de Animalidade seguem o mesmo exemplo. Elas não possuem uma longa perspectiva de suas vidas nem um senso de propósito de vida. Uma gratificação imediata é o mais importante para elas.


O Gosho declara: “A estupidez é o mundo da Animalidade”. A princípio, podemos fazer uma objeção a tal rigorosa descrição porque os animais, apesar de tudo, não empreendem guerras ou poluem o meio ambiente. Vivem em harmonia com o mundo que os cercam e podem obter alimento, encontrar refúgio e proteger-se por si própios. Mas o homem que vive somente por instinto, que não realiza nemhum esforço direcionado a algum sonho futuro, e que somente aspira atingir os desejos imediatos, pode-se dizer que vivem um tolo modo de vida. Em sua “Carta de Sado,” Nitiren Daishonin refere-se à natureza da Animalidade: “Os Peixes em um lago desejam viver em segurança e, deplorando a sua pouca profundidade, cavam buracos no fundo para se esconderem. Porém, iludidos pela isca, mordem o anzol” (END I, pág 194). Sobre esta passagem, o Presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda disse: “ Se viver sob o dominio do instinto, uma pessoa cairá finalmente na ruína”. Em diversos Gosho, Nitiren Daishonin descreve o Estado de Animalidade. Em “O Soberano, Mestre e Pai” ele afirma: “O pequeno é tragado pelo grande, e os menores são comidos pelos maiores, devorando-se uns aos outros sem cessar”. Isto assemelha-se à descrição das práticas modernas no mundo dos negócios. Muitos usam o termo “mundo cão” ao descreverem as táticas usadas para a ascensão social. A frase “o pequeno é tragado pelo grande” indica a sociedade hostil que domina em nossos anos recentes. Em um outro Gosho, “Carta de Sado”, Nitiren Daishonin escreve: “A natureza do animal é ameaçar o fraco e temer o forte. Tomando como exemplo o homem, pessoas emocionalmente sensíveis podem ser consideradas “fracas” perante as ameaças daqueles mais fortes e agressivos.
Um psiquiatra norte-americano descreve uma pessoa sensitiva à pressão ( “pressure sensitive” - PS ) uma pessoa que sofre por ser “fraca”. Ele diz: “Presos num tráfego congestionado, desafiados por um vendedor rude, frustrados por um colega individualista, o corpo de uma pessoa PS rebela-se - a pressão sangüínea sobe, a pulsação acelera, evidenciam-se problemas estomacais e a temperatura cai”. Afirma também que tais tipos de pessoas tendem a agarrar-se à família e ao status e sentem que suas vidas são governadas pelas oportunidades, sorte ou pelo capricho de outras. O estado de Animalidade espalha-se desenfreadamente nos dias atuais. Qualquer um que já tenha dirigido em uma avenida congestionada de uma grande cidade tem uma idéia do que é a lei da selva. As grandes metrópoles são chamadas de “selvas de concreto” onde as quadrilhas agridem outras quadrilhas, porém “protegendo seus componentes”. Traficantes de drogas comercializam seus produtos preocupados somente com si própios e em quanto dinheiro podem obter. Os exemplos são inúmeros. De modo geral, as pessoas parecem cada vez mais preocupadas somente com a sua própria sobrevivência, não importando o quanto isso poderá ferir as outras. Milhares de pessoas não vivem suas vidas, meramente existem. Pode-se dizer que as pessoas abandonadas, sem um lugar para morar, por exemplo, não vivem em outra condição a não ser no mundo da Animalidade. Suas existências sem perspectivas ilustram o estado miserável que caracteriza o estado da Animalidade. Desde que o instinto domina aqueles do Estado de Animalidade, qualquer senso de moralidade é em vão. Realmente, no Estado de Animalidade o nível de moralidade das pessoas está abaixo do de outros animais. Falando a respeito dos reverendos heréticos de seu tempo, Nitiren Daishonin afirma que: “Essas pessoas são tão insolentes que mesmo os animais são mais respeitáveis. Com relação a este fato, o grande mestre Dengyo escreveu que a lontra mostra seu respeito antes de comer o peixe que caçou, o corvo na floresta leva alimento para seus pais e avós, a pomba cuida para pousar três galhos abaixo do de seu pai, os gansos mantém uma formação perfeita quando estão voando juntos, e os cordeiros ajoelham-se para beber o leite de sua mãe. Ele pergunta, se animais inferiores conduzem a si própios com tais características, como pode o ser humano ser tão descortês? (MW I, pág. 261). 


Contudo, apesar de todos os aspectos negativos do Estado de Animalidade, assim como o Mundo do Inferno e Fome, este também possui seu lado positivo. Na verdade, nossos instintos primitivos são essenciais para a nossa sobrevivência como indivíduos e como espécie. A Animalidade também pode ser caracterizada como sendo um dos três venenos, a estupidez. Podemos supor que a definição de estupidez aqui ultrapassa o conceito de ignorância e ingenuidade.
O dito popular “Ignorância é êxtase”, esclarece um dos aspectos positivos da Animalidade. Algumas pessoas podem ser felizes vivendo em ignorância. Na realidade, a ignorância em muitos casos é melhor do que a sabedoria mal intencionada. Do ponto de vista da Lei Mística todos os mundos inferiores possuem aspectos positivos. Os sofrimentos que ultrapassamos podem ser o incentivo que precisamos para revolucionar as nossas vidas. Quando sofremos podemos apreciar os mundos mais elevados, assim como aguardamos a primavera após um rigoroso inverno. Numa análise final, a coisa mais importante é elevar a nossa condição de vida e compreender quão miserável é ser controlado por estes mundos mais baixos, uma condição comum para as pessoas nos Últimos Dias da Lei. Através de nossa prática de recitação do Nam-myoho-renge-kyo ao Gohonzon podemos mudar definitivamente o nosso sofrimento em alegria, o medo sem coragem, incerteza em senso de missão e confiança e o desespero em esperança, tal é o poder do Verdadeiro Budismo de Nichiren Daishonin."
Fonte: T.C. nº 256 pág. 30 a 32 de 10/89

Seleção de texto: Doralice e Paulo Bruno. 12/4/97

Digitação - Paulo Bruno.

Volta das atividades


A BSGI acaba de comunicar, fim do recesso, e retorno das atividades com os devidos cuidados. Assim as reuniões de blocos e visitas estão de volta! Boa sorte a todos!
Aproveite e participe da pesquisa do BudaNaWeb,
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sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Estado de Fome

"Dando continuidade aos Dez Estados de Vida, hoje enfocamos o Estado de Fome, que é a condição de desejo insaciável. 

Os desejos são condições naturais para a vida, se são expressos ou não, todos os seres humanos possuem miríades de desejos.
Naturalmente, muitos desejos são saudáveis, até mesmo essenciais, para a nossa própria existência. Mas, o Mundo da Fome é caracterizado por uma obsessão de realizar os desejos e uma incapacidade em satisfazê-los. As pessoas no Estado de Fome são completamente dominadas por seus desejos e por conseguinte dirigidas à infelicidade e impedidas de desenvolverem-se e prosperarem.
A Fome é o segundo dos Dez Mundos.
Nitiren Daishonin escreveu que “estar avarento é fome” (END, vol. I, pág. 55).
A Fome é uma condição na qual as pessoas são incapazes de satisfazer seus desejos. É um estado de inanição. Neste estado de vida o principal objetivo das pessoas é a busca do desejo. Se a tendência básica da vida de uma pessoa é o Estado de Fome, ele ou ela é completamente controlado pelos desejos insaciáveis nas profundezas de sua vida.
Desejar ardentemente por comida, ansiar por sexo, estar sedento por riquezas, fama, poder e domínio, tudo está compreendido no mundo de Fome.
Devido à coexistência dos Dez Mundos, há uma condição de Fome “iluminada” também.
Um exemplo disso pode ser o desejo espiritual de se encontrar o significado da vida.
No Gosho, Nitiren Daishonin narra a estória de Mokuren (Maudgalyayana), um dos dez principais discípulos de Sakyamuni, conhecido por seus poderes ocultistas, e de sua mãe. Essa narrativa descreve vividamente a difícil situação de uma pessoa mergulhada no Estado de Fome.
Nitiren Daishonin declara: “Mokuren podia penetrar nos Três Maus Domínios abaixo da Terra, assim como podemos ver o peixe nadando sob uma camada de gelo transparente numa manhã ensolarada. Ele descobriu sua mãe em sofrimento, no Mundo da Fome, incapaz de comer ou dormir. Sua pele assemelhava-se a uma ave depenada e seus ossos pareciam seixos. Sua cabeça parecia-se com uma bola, seu pescoço com uma fina rosca e seu estômago dilatado com o vasto oceano. A aparência de sua mãe suplicando com a boca aberta e as mãos juntas pressionadas fez-lhe lembrar das sanguessugas famintas que sangram uma pessoa” (Gosho Zenshu, pág, 1427).
Seu estômago dilatado, vasto como o oceano, lembra-nos alguém no estágio avançado de desnutrição e indica o desejo infinito de uma pessoa no Estado de Fome. Também a impossibilidade de se alimentar através da fina garganta, indica a futilidade em tentar saciar aquele desejo. A estória continua mostrando Mokuren procurando aliviar o sofrimento de sua mãe, mandando-lhe alimento e água. Todavia, sempre que estendia as mãos para apanhá-los, os alimentos queimavam em chamas. Isto mostra como a condição de Fome conduz uma pessoa ao desespero por ter o objeto de desejo próximo, porém inatingível. 


O caracter japonês que designa “Fome” é “Gaki”. “Ga” significa “fome”, enquanto que “Ki” significa “demônio”. Um sutra descreve três tipos de demônios ou espíritos da fome, cada um deles é ainda subdividido em três, e outro sutra relaciona trinta e seis tipos.
No Gosho “A Origem de Urabon”, Nitiren Daishonin descreve alguns desses trinta e seis tipos de Fome e as suas causas:
Os espíritos famintos em forma de caldeirão não possuem olhos ou boca. A razão para tal é que, enquanto neste mundo, eles atacaram pessoas sob a cobertura da noite ou cometeram roubos. Os espíritos famintos comedores de vômito alimentam-se do vômito de outras pessoas. As causa para esta condição é a mesma da anterior. É também porque roubaram alimentos de outras pessoas. Os espíritos famintos devoradores da Lei renunciam ao mundo para difundir o Budismo somente porque pensam que pregando a Lei as demais pessoas irão respeitar-lhes. Procurando por fama e fortuna mundanas, eles passam toda a existência presente tentando exceder outras em tudo. Não ajudam as pessoas nem tentam salvar mesmo seus próprios pais. Tais pessoas são chamadas de espíritos famintos devoradores da Lei, ou aquelas que fazem uso da Lei para satisfazer seus próprios desejos.
Existem também os espíritos famintos em possuir bens, que são aqueles que possuem bens, entretanto invejam e acalentam um desejo insaciável em querer mais, e os espíritos menos famintos em possuir bens, que não possuem bens em totalidade. Todos estes diferentes espíritos indicam um número incontável de desejos que todos os seres humanos possuem em um grau ou outro. 


O Budismo entretanto ensina que procurar a felicidade através da realização dos desejos é fútil, tudo neste mundo é transitório. Os desejos mundanos (bonno) causam na realidade mais sofrimento do que felicidade.
Os desejos mundanos são classificados sob vários modos.
O Daitido Ron diz que os três venenos da avareza, ira e estupidez originam todos os outros desejos.
O Juyuishiki Ron, compilado por Dharmapala (século VI ), divide os desejos mundanos em dois tipos, fundamentais e derivativos.
Os dez desejos fundamentais consistem em cinco paixões ilusórias - e os cinco falsos aspectos.
Além disso, há vinte desejos derivativos que acompanham cada um desses fundamentais.
Por exemplo, irritabilidade, a tendência em manter a inveja e o desejo de impor a ofensa, que derivam do ódio.
Tien’tai classifica os desejos mundanos em três categorias de ilusão:
1) ilusões de pensamento e desejo
2) inumeráveis ilusões como partículas de pó e areia
3) ilusões a cerca da verdadeira natureza da existência Muitas formas de Budismo concordam que os desejos ou ilusões causam sofrimentos. Mas em consideração sobre o que fazer, as várias escolas diferem amplamente.
Os sutras Budistas primitivos afirmavam que eliminar os desejos corresponde a atingir a iluminação. Mas, mesmo que tivéssemos de eliminar os desejos materiais e espirituais, a necessidade por alimento ou sono existiria durante o tempo em que estivéssemos vivos. Portanto, o Budismo Hinayana ensina que a iluminação pode somente ser atingida após a morte. Como podemos ver, o Budismo primitivo reconhecia a natureza má dos desejos mas não o seu potencial para o bem.
Em seu diálogo com o Dr. Wilson, o Presidente Ikeda diz: “Sem dúvida alguma, o desejo instintivo que se permite que se manifeste sem rédeas em formas tais como gana de poder e dominação constitui uma ameaça à vida. O desejo de um ser controlado, iluminado, compassivo pode ser altamente valioso e criativo.
O Budismo Mahayana ensina que esse desejo controlado, sublimado, pode ser obtido através da união do pequeno ser da vida humana individual com o grande ser que é a fonte universal de toda a vida.” A união que o Presidente Ikeda menciona aqui não é nenhuma outra senão a fusão da pessoa com a Lei Mística através da recitação do Nam-myoho-renge-kyo.
O Budismo Mahayana, que culmina com o Sutra de Lótus, ensina que desejo e iluminação não diferem em sua essência. Portanto, se as pessoas erradicarem os desejos elas também estarão rejeitando a iluminação. Ou, inversamente, as pessoas podem atingir a iluminação somente enquanto permanecerem mortais comuns com desejos mundanos. A iluminação é, portanto, a não erradicação dos desejos mas sim a transformação dos desejos mundanos em iluminação (bonno soku bodai) conforme formulado pelos budistas chineses.
O Buda pode claramente perceber a verdade de que os desejos mundanos e a iluminação são unos. Mas para um mortal comum, os desejos mundanos não são nada mais que desejos mundanos. Eles somente causam sofrimento. A prática budista é por conseguinte necessária para despertar a natureza de Buda que existe dentro de todos nós de modo que possamos drenar o poder benéfico de nossos desejos.
No “Registro dos Ensinos Orais”, Nitiren Daishonin diz:
“Agora Nitiren e outros que recitam o Nam-myoho-renge-kyo... queimam a lenha dos desejos mundanos e contemplam o fogo da iluminação diante de seus olhos.”
Aqui Nitiren Daishonin explana que os desejos são na realidade vitais para atingirmos a iluminação. Mas devemos nos lembrar que não é o objeto de nosso desejo que nos trará a felicidade, mas o desejo de obtê-lo que nos leva a recitar o Nam-myoho-renge-kyo, que por sua vez ativa o nosso Estado de Buda. Os desejos mundanos são simplesmente o meio para revelarmos a nossa iluminação, assim como a lenha não é o que ilumina o nosso caminho ou nos aquece mas é o meio para criar o fogo.
Em outras palavras, se não tivéssemos sonhos desejos ou problemas para subjugar, não teríamos razão para praticar o Budismo. É nosso desejo viver melhor através da recitação do Nam-myoho-renge-kyo. Então, quando recitamos o Nam-myoho-renge-kyo, purificamos nossas vidas e ativamos o nosso Estado de Buda, trazendo imensurável alegria em nossas vidas.
Portanto, com o Budismo de Nitiren Daishonin, o Mundo da Fome pode transformar-se imediatamente no Mundo da Iluminação ou Estado de Buda. Através de seus ensinos podemos usar todos os nossos desejos como uma força direcionada para o nosso progresso. Aqui reside o porquê da recitação do Nam-myoho-renge-kyo ser universalmente praticável por todas as pessoas.
Embora o Mundo da Fome seja normalmente considerado como um estado de vida de infelicidade e miséria, pode apresentar tanto seus aspectos bons quanto maus.
Em seu diálogo com o Dr. Bryan Wilson, da Faculdade All Souls, Universidade de Oxford, intitulado “Valores Humanos num Mundo em Mutação”, o Presidente Ikeda diz:
“ O desejo constitui a mola vital da energia criativa física e espiritual e, nessa conformidade, pode ser a causa de um grande bem ou um grande mal... O Budismo Mahayana ensina que, quando saturado de esforço altruístico, prático, para a salvação compassiva do semelhante e o melhoramento da sociedade, o desejo pode ser sublimado e controlado.”
O desejo para tornar a vida mais confortável ou para aumentar o conhecimento, tem conduzido aos progressos na tecnologia e na medicina. O desejo para aliviar o sofrimento de pessoas doentes, por exemplo, tem levado a novas técnicas cirúrgicas e a medicamentos mais eficientes. E o desejo de sondar o universo tem conduzido ao grande avanço na ciência e tecnologia. Nossos desejos por uma bela casa ou melhor alimentação motivam-nos a trabalhar mais e a, estudar mais, aperfeiçoando-nos dessa forma. 


Existe também, naturalmente, toda uma gama de desejos espirituais. Muitas pessoas desiludidas com o mundo material frequentemente procuram a felicidade no campo espiritual. Elas buscam a verdade de sua existência fazendo as questões: “ Quem sou eu” ? e “Por que estou aqui” ? Esperando mais da vida do que propriamente bens ou dinheiro, muitas pessoas buscam uma realização mais profunda. Este desejo leva muitos a empreender obras de caridade ou a lutar por justiça e igualdade. A desolação espiritual que preenche a mente das pessoas atualmente é um típico exemplo do Mundo da Fome.
Porem, todos os desejos, mesmo aqueles mais elevados, podem tornar-se uma paixão consumidora que faz-nos miseráveis, especialmente se estivermos incapacitados de satisfazê-la.
Os exemplos são muitos. O desejo por um “ bom divertimento” conduz muitas pessoas a abusarem de drogas e do álcool. A dependência destas substâncias pode causar problemas no trabalho, na família e prejudicar a saúde das pessoas.
O desejo de buscar a verdade espiritual sozinha algumas vezes leva as pessoas a ignorarem a realidade de suas vidas diárias.
Ademais, as pessoas que perseguem egoisticamente esta verdade somente em prol de si mesmas, são denunciadas pelo Budismo como sendo egoístas demais para atingirem a iluminação.
O caminho para o sucesso, para ser o melhor, são desejos saudáveis, se controlados.
O executivo levado a edificar seus negócios pode oferecer à sua família muitos confortos materiais, mas seu interminável desejo por mais e mais dinheiro pode fazê-lo negligenciar a sua família ou afasta-lo para longe dela.
Os desejos de todas as nações, que refletem os desejos acumulados de cada indivíduo, podem causar tragédias como guerras e destruição, quando as nações crescem sem controle.
As pessoas são elevadas ao Mundo do Êxtase quando o objeto desejado, especialmente uma meta de vida, é atingido.
Contudo, uma pessoa no Mundo do Êxtase pode facilmente cair para o Estado de Fome ou ainda ao de Inferno. Por exemplo, um casal pode trabalhar intensamente por dez ou vinte anos guardando seu dinheiro para comprar uma nova casa.
Naturalmente, quando eles finalmente mudam-se para esta casa, ficam extremamente felizes e satisfeitos.
Mas, se um amigo comprar uma casa maior, eles não ficarão tão contentes.
Eles podem começar a almejar por uma casa ainda maior.
Neste sentido, o desejo das pessoas podem ir mais e mais além.
Tais desejos incontroláveis são típicos do Mundo da Fome.
Se a casa for destruída pelo fogo, a família pode cair no desespero e no abandono da condição de Inferno."
Fonte: T.C. nº 255 pág. 43 a 46 de 11/89
Seleção do texto: Doralice e Paulo Bruno
Digitação - Paulo Bruno.