"Quando Shakyamuni Buda incorporou o antigo princípio indiano de carma em seus ensinamentos, ele transformou um conceito de resignação em um conceito de esperança—do ponto de vista que a vida é predeterminada e de que pessoas são impotentes, para um conceito de que a vida possui ilimitadas possibilidades e autonomia.
O conceito de carma existe em muitas culturas, especialmente por toda a Ásia, e é freqüentemente incompreendido. É quase sempre usado para convencer os des privilegiados da sociedade a aceitar suas situações desafortunadas na vida como sendo de sua própria criação. Ao aceitar seus destinos predeterminados, eles se resignarão às disparidades sociais.
Em sânscrito, carma significa “ato” or “ação.” Originalmente isto significa “trabalho” ou “função” e estava relacionado a palavras como “fazer” ou “produzir”. No budismo, carma refere-se às nossas ações, ou causas, criadas através de nossos pensamentos, palavras e comportamento.
As ações que praticamos causam um impacto maior em nosso carma do que as palavras e nossas palavras causam um impacto maior do que os pensamentos que criamos. Mas como nossas ações e que o que falamos revelam nossos pensamentos, nossas intenções - nossos corações - também são cruciais.
Com base na Lei de Causa e Efeito, este conceito de carma explica que as causas do passado e do presente determinam os eventos do presente e do futuro. Ele descreve as tendências latentes ou potenciais criadas pelas nossas ações do passado e que ressurgem quando as condições apropriadas aparecem. O carma pode ser tanto bom quanto ruim; boas ações (bom carma) criam efeitos felizes e positivos enquanto que ações ruins (mau carma) criam efeitos infelizes e negativos. Assim que executada por uma pessoa, qualquer ação, tanto boa quanto má, não irá simplesmente desaparecer. Cada ação permanence em nossa vida como uma força de energia em potencial, influenciando a direção que nossa vida irá tomar a partir daquele momento em diante. Neste sentido, ao invés de simplesmente enfocar o carma como uma "ação", seria mais apropriado pensar nele como uma ação acrescida de seu potencial, que pode vir a influenciar nossa vida. Simplificando, carma pode ser visto como as tendências e hábitos impressos na vida.
Se repetirmos um certo tipo de ação várias vezes, ela se tornará um hábito. E um hábito enraizado se transformará na tendência de agir, pensar ou reagir a desafios de uma maneira específica. Estas tendências acumulam-se e são impressas nos níveis mais profundos de nossa vida, conseqüentemente criando o que virá a se tornar a essência da nossa personalidade.
O ponto de vista budista em relação a carma ensina que nós somos os responsáveis pelo que somos e pelas circunstâncias atuais em que nos encontramos hoje.
As causas de vidas passadas criam as condições e circunstâncias de nossa existência atual.
Mas não termina por aí. Ao contrário da antiga visão india na de carma, o Sutra de Lótus de Shakyamuni ensina—e em última análise, a prática do budismo de Nichiren demonstra—que podemos nos libertar do confinamento de causas passadas. O Sutra de Lótus explica que já está presente dentro de nós a causa verdadeira ou original de nossa energia vital cósmica e pura, não corrompida pelas causas e efeitos influenciados pela ilusão.
O budismo Nichiren revela este estado de vida original como sendo a natureza de Buda de Nam-myoho-rengue-kyo. Trazendo a influência desta causa verdadeira por nós herdada para o momento presente, as influências de nossas causas e efeitos negativos são diminuídos e seu poder de influenciar o futuro é reduzido.
Em “Carta a Niike,” Nichiren Daishonin escreve, “Nossas ações mundanas más e nosso carma ruim podem ter se empilhado tão alto quanto o Monte Sumeru, mas quando depositamos nossa fé neste sutra, estes desaparecerão como a geada ou o orvalho sob o sol do Sutra do Lótus” (As Escrituras de Nichiren Daishonin, vol. 1, pág.1026).
Em outras palavras, somos capazes de modificar nosso carma negativo desafiando as dificuldades da vida através da fé e da prática budista, as quais estimulam o surgimento de nossa natureza de Buda. A medida que deixamos a luz do estado de Buda brilhar em nossa vida, os efeitos negativos que sofremos devido a causas passadas individuais, diminuirão significativamente.
“Além disso,” como explica o presidente Ikeda, da SGI, “não limitamos nosso foco apenas para o nosso carma pessoal. Uma vez que tenhamos nos libertado das correntes do carma, precisamos trabalhar com o objetivo de libertar outros que também estão sofrendo por causa do carma, e finalmente, devemos voltar nossa atenção à missão de mudar o carma de toda a humanidade. Este é o caminho para se atingir o estado de Buda para si mesmo e para outros” (O Mundo das Escrituras de Nichiren Daishonin,vol.
3, pág. 50)."
Fonte - Dave Baldschun, Departamento de Estudos da SGI-EUA.