quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Estado de Animalidade

"O estado de animalidade (tikusho) é o terceiro mais baixo dentre os Dez Mundos. Animalidade, junto a Inferno e Fome, formam o que conhecemos como os “Três Maus Caminhos”. São assim chamados porque são estados de sofrimento. 


É dito no Budismo que as pessoas caem nesse domínio por cometerem más ações. Animalidade é o estado de vida no qual as pessoas são dirigidas unicamente por seus instintos. Elas agem impulsivamente, com irracionalidade e sem moralidade. O critério de suas ações é a luta pela sobrevivência, “a lei da selva”, aproveitando-se dos mais fracos e adulando os mais fortes. Tikusho é um termo geral para animais. De acordo com alguns sutras, se mesmo que as pessoas vivam como seres humanos hoje, se estas vivem a lamentar-se constantemente ou a difamar outras pessoas, ou entregam-se excessivamente aos prazeres sexuais, ou vivem freqüentemente enfurecidas, podem renascer sob alguma forma de animal em sua próxima existência.


Todos os seres humanos possuem o Estado de Animalidade como uma condição potencial de vida. Durante o desenvolvimento do embrião humano, de fato, este passa por estágios que são surpreendentemente similares aos de outros vertebrados. Em um dos estágios é quase impossível diferenciar entre o embrião de um peixe, uma tartaruga, um galo, um coelho e de um homem. Contudo, o célebro humano possui várias funções em comum com muitos outros animais. É formado por três partes ou camadas básicas. A base cerebral ou cérebro anterior controla as funções vitais básicas involuntárias tais como a respiração, batidas cardíacas, o despertar e o adormecer. Ao redor deste está o cérebro médio ou “velho córtex”, que controla o desejo da fome e sede, como também os impulsos sexuais - desejos importantes para a sobrevivência do indivíduo e das espécies. Muitos animais partilham estas duas primeiras camadas de funções cerebrais. Ao redor do velho córtex está o chamado “novo córtex”, o centro de funções exclusivo aos seres humanos. A habilidade para controlar e viver além dos impulsos de um indivíduo por alimento ou sexo é unicamente humana. Agir impulsivamente, guiar-se somente por instinto, é viver como um animal. Pode-se dizer que o modo de vida humano reside em não ser dominado por tais tendências impulsivas. 



Mergulhando no mundo da Animalidade, as pessoas perdem o sentido da razão, e suas emoções são facilmente dominadas pelo mêdo e covardia. Os indivíduos que vivem neste estado de vida, como animais, podem adaptar-se ao seu meio ambiente, mas quando defrontam-se com situações desagradáveis ou estranhas, freqüentemente ficam paralisados pelo mêdo. Não conseguem encontrar uma solução perdendo toda a esperança e resignando a si mesmas ao própio destino. A natureza dos animais é viver o dia a dia. Eles são incapázes de pensar ou planejar adiante. Certamente, alguns animais armazenam alimentos para o futuro, mas esta prática é puramente instintíva, algo sobre o qual possuem pouco ou nenhum contrôle. Eles não possuem sonhos, esperanças para o futuro ou ainda uma direção na vida. As pessoas no Estado de Animalidade seguem o mesmo exemplo. Elas não possuem uma longa perspectiva de suas vidas nem um senso de propósito de vida. Uma gratificação imediata é o mais importante para elas.


O Gosho declara: “A estupidez é o mundo da Animalidade”. A princípio, podemos fazer uma objeção a tal rigorosa descrição porque os animais, apesar de tudo, não empreendem guerras ou poluem o meio ambiente. Vivem em harmonia com o mundo que os cercam e podem obter alimento, encontrar refúgio e proteger-se por si própios. Mas o homem que vive somente por instinto, que não realiza nemhum esforço direcionado a algum sonho futuro, e que somente aspira atingir os desejos imediatos, pode-se dizer que vivem um tolo modo de vida. Em sua “Carta de Sado,” Nitiren Daishonin refere-se à natureza da Animalidade: “Os Peixes em um lago desejam viver em segurança e, deplorando a sua pouca profundidade, cavam buracos no fundo para se esconderem. Porém, iludidos pela isca, mordem o anzol” (END I, pág 194). Sobre esta passagem, o Presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda disse: “ Se viver sob o dominio do instinto, uma pessoa cairá finalmente na ruína”. Em diversos Gosho, Nitiren Daishonin descreve o Estado de Animalidade. Em “O Soberano, Mestre e Pai” ele afirma: “O pequeno é tragado pelo grande, e os menores são comidos pelos maiores, devorando-se uns aos outros sem cessar”. Isto assemelha-se à descrição das práticas modernas no mundo dos negócios. Muitos usam o termo “mundo cão” ao descreverem as táticas usadas para a ascensão social. A frase “o pequeno é tragado pelo grande” indica a sociedade hostil que domina em nossos anos recentes. Em um outro Gosho, “Carta de Sado”, Nitiren Daishonin escreve: “A natureza do animal é ameaçar o fraco e temer o forte. Tomando como exemplo o homem, pessoas emocionalmente sensíveis podem ser consideradas “fracas” perante as ameaças daqueles mais fortes e agressivos.
Um psiquiatra norte-americano descreve uma pessoa sensitiva à pressão ( “pressure sensitive” - PS ) uma pessoa que sofre por ser “fraca”. Ele diz: “Presos num tráfego congestionado, desafiados por um vendedor rude, frustrados por um colega individualista, o corpo de uma pessoa PS rebela-se - a pressão sangüínea sobe, a pulsação acelera, evidenciam-se problemas estomacais e a temperatura cai”. Afirma também que tais tipos de pessoas tendem a agarrar-se à família e ao status e sentem que suas vidas são governadas pelas oportunidades, sorte ou pelo capricho de outras. O estado de Animalidade espalha-se desenfreadamente nos dias atuais. Qualquer um que já tenha dirigido em uma avenida congestionada de uma grande cidade tem uma idéia do que é a lei da selva. As grandes metrópoles são chamadas de “selvas de concreto” onde as quadrilhas agridem outras quadrilhas, porém “protegendo seus componentes”. Traficantes de drogas comercializam seus produtos preocupados somente com si própios e em quanto dinheiro podem obter. Os exemplos são inúmeros. De modo geral, as pessoas parecem cada vez mais preocupadas somente com a sua própria sobrevivência, não importando o quanto isso poderá ferir as outras. Milhares de pessoas não vivem suas vidas, meramente existem. Pode-se dizer que as pessoas abandonadas, sem um lugar para morar, por exemplo, não vivem em outra condição a não ser no mundo da Animalidade. Suas existências sem perspectivas ilustram o estado miserável que caracteriza o estado da Animalidade. Desde que o instinto domina aqueles do Estado de Animalidade, qualquer senso de moralidade é em vão. Realmente, no Estado de Animalidade o nível de moralidade das pessoas está abaixo do de outros animais. Falando a respeito dos reverendos heréticos de seu tempo, Nitiren Daishonin afirma que: “Essas pessoas são tão insolentes que mesmo os animais são mais respeitáveis. Com relação a este fato, o grande mestre Dengyo escreveu que a lontra mostra seu respeito antes de comer o peixe que caçou, o corvo na floresta leva alimento para seus pais e avós, a pomba cuida para pousar três galhos abaixo do de seu pai, os gansos mantém uma formação perfeita quando estão voando juntos, e os cordeiros ajoelham-se para beber o leite de sua mãe. Ele pergunta, se animais inferiores conduzem a si própios com tais características, como pode o ser humano ser tão descortês? (MW I, pág. 261). 


Contudo, apesar de todos os aspectos negativos do Estado de Animalidade, assim como o Mundo do Inferno e Fome, este também possui seu lado positivo. Na verdade, nossos instintos primitivos são essenciais para a nossa sobrevivência como indivíduos e como espécie. A Animalidade também pode ser caracterizada como sendo um dos três venenos, a estupidez. Podemos supor que a definição de estupidez aqui ultrapassa o conceito de ignorância e ingenuidade.
O dito popular “Ignorância é êxtase”, esclarece um dos aspectos positivos da Animalidade. Algumas pessoas podem ser felizes vivendo em ignorância. Na realidade, a ignorância em muitos casos é melhor do que a sabedoria mal intencionada. Do ponto de vista da Lei Mística todos os mundos inferiores possuem aspectos positivos. Os sofrimentos que ultrapassamos podem ser o incentivo que precisamos para revolucionar as nossas vidas. Quando sofremos podemos apreciar os mundos mais elevados, assim como aguardamos a primavera após um rigoroso inverno. Numa análise final, a coisa mais importante é elevar a nossa condição de vida e compreender quão miserável é ser controlado por estes mundos mais baixos, uma condição comum para as pessoas nos Últimos Dias da Lei. Através de nossa prática de recitação do Nam-myoho-renge-kyo ao Gohonzon podemos mudar definitivamente o nosso sofrimento em alegria, o medo sem coragem, incerteza em senso de missão e confiança e o desespero em esperança, tal é o poder do Verdadeiro Budismo de Nichiren Daishonin."
Fonte: T.C. nº 256 pág. 30 a 32 de 10/89

Seleção de texto: Doralice e Paulo Bruno. 12/4/97

Digitação - Paulo Bruno.

2 comentários:

João Paulo Cabrera disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cesinha Chaves disse...

João, o lugar no Barão da Torre continua lá!
135 é o número.
Dá uma chegada lá e se informa das reuniões, todos ficarão contentes em lhe auxiliar.
Prá ir "esquentando" vai se interando no "kit" de introdução - http://www.budanaweb.com/2009/03/textos-de-introducao.html
Abraço e boa sorte, sempre!